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Diário de Bicicleta no Nepal 12 – DX: os chineses muçulmanos

Acordamos cedo. O dia ensolarado de 02 de junho de Lanzhou nos convidava a sair da cama, mas o cansaço não queria. O café estava servido. Comemos com pressa. Os outros nos esperavam no escritório do brasileiro Mateus Napoli, inclusive, a esposa e as duas filhas do nosso anfitrião. Não era longe. Seguimos a pé até lá.

Ao chegarmos nos deparamos com um prédio não tão novo, mas grande. Chegamos ao andar certo, entramos pela porta do apartamento, atravessamos um corredor estreito e paramos na sala de trabalho de Mateus. O espaço era apertado, mas coube todo mundo. Aliás, não só os brasileiros iriam participar daquele evento, mas também cerca de cinco famílias chinesas. O objetivo era conhecer um pouco sobre a história religiosa e a cultura local. Ficamos juntos a manhã toda. 19400379_256559454825510_9188481171045338807_o

O almoço foi em um restaurante próximo. E o cardápio não poderia ser mais típico: o famoso e original lámen, uma delícia!

Após o almoço, seguimos de carro para o interior de Lanzhou. Era grande a expectativa de conhecer a etnia Dongxiang, que reúne cerca de 700 mil chineses muçulmanos – que, para facilitar, chamamos de “DX”. E foi incrível!

E como eles se tornaram muçulmanos? Como a região fazia parte da “rota da seda” (percurso de comércio com 6,4 mil quilômetros que ligava a China ao Império Romano no século 2 a.C.), muitos mercadores passaram por lá, inclusive, árabes e persas. Então, o contato entre culturas gerou um tipo de “islamização” da população chinesa. O Islamismo é minoria na China, mas estima-se que 26 milhões de muçulmanos de etnia chinesa vivem atualmente no país.

Mas antes de chegarmos a Dongxiang, passamos pela represa da região de Liujiaxia e nos maravilhamos com sua beleza e grandeza.

Ao atravessarmos a ponte, já podemos dizer que estamos no território dos DX. Montanhas imensas, curvas perigosas, subidas e paisagem cobertas de terra e pedras, pouco verde.

Estava quente e foi difícil encontrar água gelada pelo caminho (vale registrar que os chineses daqui preferem água aquecida do que fria). Que alegria foi encontrar uma venda com refrigerador. Lá pudemos comprar água gelada, sorvete e picolés (até de ervilha!).

Chegamos na casa do seu Ibrahimu quase na hora do pôr-do-sol. Ele nos esperava com um sorriso no rosto e pronto para nos levar até o local em que o cordeiro estava sendo abatido. 19222881_254963834985072_7873039156209068540_o

Seu Ibrahimu tem cerca de 70 anos e é um muçulmano chinês típico daqui. Segue as tradições e ritos com seriedade, e é muito hospitaleiro. Como fomos parar na casa dele? Vale explicar.

Mateus e outros brasileiros tiveram uma ideia: oferecer um tipo de “turismo cultural”, que consiste basicamente em oferecer a turistas um ou dois dias de experiência em uma família típica DX. Isso não somente permite um tipo de “imersão” na cultura local aos de fora como gera renda aos de dentro. O seu Ibrahimu está todo animado com a ideia. Então alugamos uma de suas casas e fomos servidos pelo que ele tem de melhor a oferecer, inclusive, um carneiro inteiro cozido para nós. Fizemos questão de presenciar todo o ritual de preparo do animal e aprendemos muito com cada detalhe. Não foi difícil, por exemplo, fazer paralelos com os rituais do Antigo Testamento. É importante pensar como a expiação de Cristo é fundamental para nossa fé e para a liberdade espiritual que ele nos dá.

O jantar foi farto. Carnes, macarrão, arroz, bolinhos, grãos e muito chá. Delicioso, mas com pouco sal. Nos sentamos ao redor da circular posta sobre uma cama larga. O mais velho tem a honra de servir-se primeiro. Com sua barba e cabelos brancos, coube ao nosso amigo Sheder o privilégio. Terminamos a refeição bem cheios, mas os anfitriões não esconderam a frustração. Esperavam que comêssemos mais. Aliás, vale dizer que seu Ibrahimu não sentou-se à mesa conosco. É o mês do Ramadã e ele está de jejum das 4 da manhã às nove e meia da noite. Pediu desculpas, mas após nos servir, dirigiu-se para a mesquita para orações e cânticos.

Todos nós, os turistas, fomos para um quarto que alugamos. Ficamos no mesmo cômodo, era o quarto principal da casa. Lá atravessamos a madrugada conversando. Alguns não resistiram ao sono e dormiram. Outros continuaram acordados e até participaram das refeições dos DX no meio da madrugada.

Foi difícil levantarmos cedo no dia seguinte. Tínhamos muitos quilômetros para percorrer ainda, mas acabamos saindo um pouco tarde da casa do seu Ibrahimu. Com isso, quase perdíamos a visita que planejamos a uma escola da região. Mas seguimos.

Percorremos muitos vilarejos e nos encantamos mais uma vez com as paisagens cheias de montanhas e plantações cultivadas no meio delas. Os cortes para plantação são incríveis. Eles acompanham as curvas acidentais das altas montanhas. Mateus explica que este aperfeiçoamento do espaço foi feito muito tempo atrás e evidencia uma inteligência agrícola incrível dos antigos agricultores. São como pequenas estradas aplainadas. É difícil acreditar que conseguiram fazer isso em um tempo de pouca tecnologia.

Visitamos o ‘ponto zero’ da China – pelo menos foi o propagado quando inauguraram o local que hoje está abandonado e cheio de mato. O Governo Chinês não gostou da ideia dos líderes locais de torná-lo o “centro da China” (e como os chineses acreditam que o mundo começou lá, este local seria também o “centro do mundo”).

Um dos lugares mais marcantes, no entanto, foi um grande sofisticado mausoléu muçulmano. Dizem que custou mais de 15 milhões de reais. Lá os homens prestam oferendas e orações aos descendentes de Maomé e de outros líderes religiosos locais. Causa impacto ver tudo aquilo oferecido a mortos. Túmulos espalhados marcam o terreno, mas não se parece com um cemitério. Tem luxo em tudo. Nesta visita fomos guiados por um dos líderes muçulmanos.

Visitamos também uma mesquita, todas elas sempre bonitas e coloridas. Mas foi a visita à escola que nos trouxe mais alegria. Tantas crianças! O nosso drone é uma desculpa ideal para conquistar a atenção delas. São muito curiosas. Weslley aproveitou para fazer embaixadinhas com uma bola de futebol, o que animou ainda mais os meninos. As meninas são mais tímidas, quando olhamos, elas escondem o rosto. Mas não deixaram de aproximar-se do nosso grupo. Uma delas começou a soprar as pequenas flores de um dente-de-leão. Outras começaram a fazer o mesmo; e logo formou-se uma bela cena: uma chuva de pétalas brancas sob o riso de crianças. Sabíamos que aquele momento era um sinal da graça de Deus. E no íntimo, oramos para que Deus abençoe cada uma daquelas crianças. Foi difícil nos despedirmos. Elas nos rodeavam e não queriam que fôssemos embora (ou éramos nós que não queríamos ir).

A julgar que havíamos nos perdido no caminho antes de chegar aquela escola, e quando chegamos as crianças já estavam indo embora para suas casas, a experiência que vivemos nos mostrou que para Deus não há descaminhos nem tempos errados. Sempre há chance de mostrar o seu amor a quem quer que seja, em qualquer tempo e em qualquer lugar.

Voltamos para o centro de Lanzhou com os corações gratos a Deus. Conhecer os DX foi uma experiência única. Também estávamos felizes em ter conhecido Mateus e sua equipe. Eles não somente saíram de seus países como se dedicam intensamente a uma cultura tão distante da nossa.

Ao voltamos para Lanzhou, fomos recebidos com um jantar menos chinês e mais latino. Tinha até feijão! Foi um presente das três famílias latino-americanas (Brasil, México e Panamá). Aquele feijão significou muita coisa para quem já estava fora de casa há mais de duas semanas. No entanto, significou muito mais a hospitalidade de gente que nem nos conhecia. Nos sentimos em casa.

Pena que tivemos que comer com pressa. Precisávamos chegar logo ao aeroporto. Nosso destino seria Pequim. Finalmente, Pequim! Tínhamos muitos planos para o dia seguinte, entre eles, visitar a famosa Muralha da China. Planos que se tornariam uma realidade inesquecível.

#diariochina

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