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Diário de Bicicleta no Nepal 8: Day after: quando a dignidade faz sentido

#Nota8 – 05/06/2017

Quando voltamos para o Bethel Guest House no sábado (27/05) já era noite. Conversamos sobre como seria a agenda do dia seguinte e nos preparamos para descansar. Banho, lanche e cama. Foi o que a maioria preferiu fazer na esperança de que o domingo seria mais leve.

De fato, acordamos mais tarde no domingo. Inevitavelmente, nossas conversas giraram em torno do que aconteceu conosco na semana que passou. Descansados, pudemos raciocinar melhor sobre as bênçãos desta viagem. Todos – sem exceção – expressaram um misto de gratidão e surpresa. Ninguém imaginava antes de chegar ao Nepal como Deus agiria.

Ele agiu nos dando persistência, mantendo-nos unidos e alegres, dando-nos experiências não planejadas, nos alertando em momentos de imaturidade, fortalecendo-nos em momento de desânimo. Deus se fez presente enquanto vivíamos cada instante do “Pedalando por Bíblias”.

No entanto, a história não tinha terminado. Tínhamos que devolver as bicicletas. Foi o que fizemos. Nos despedimos daquelas que foram nossas companheiras numa das melhores aventuras que vivemos.

O projeto “Pedalando por Bíblias” havia chegado ao fim, mas nosso grupo continua no Nepal. O que faremos então?

Descobrimos que não estávamos ali apenas para pedalar. A igreja brasileira está no Nepal, e nosso desejo era ver isso com nossos próprios olhos.

Meninas dos Olhos de Deus Após certa dificuldade, encontramos o lugar. Paramos a van em um estacionamento improvisado e já avistamos a brasileira Rose saindo de uma pequena rua à direita. Sua aparência física contrasta com o dos nepaleses: grande, branca e cabelos louros. Mas com o tempo, descobrimos que a grande diferença de Rose não é física. É seu amor pelas crianças. Amor de mãe.

A ideia do projeto “Meninas dos Olhos de Deus” surgiu com o pastor e médico José Rodrigues após visitar a Ásia e constatar o grave problema da exploração sexual de meninas asiáticas. Foram Rose e seu esposo Silvio que colocaram a ideia em prática a partir de 2000 (Silvio está no Brasil nestes dias, divulgando o trabalho). O projeto está sob a responsabilidade a Missão Cristã Mundial (MCM). Hoje em dia, nem todas as meninas são vítimas da exploração sexual (nós, visitantes, nem sabemos quem é e quem não é). Isso porque o projeto conseguiu se antecipar e resgatar algumas que estão em situação de risco. Ele atende também alguns meninos que são parentes das meninas para que não fiquem sozinhos.

Ao entrar pelo portão da casa, somos recepcionados com música cantada por cerca de 20 meninas. São crianças que moram especificamente nesta Casa de Acolhimento e aqui estudam, aprendem ofícios e são amadas. Cada rosto nos ensina algo. Uma das menores, no entanto, não sorri. Por que será? Timidez? Cansaço? Medo?

Após a canção, recebemos abraços de cada uma delas.

nepal 8

Rose nos convida para entrar. Vamos para a sala, onde todos se sentam. Então ela começa a explicar como funciona o “Meninas dos Olhos de Deus”. De todas as informações que nos dá, fica na memória o esforço em mostrar que o desejo do projeto é voltar a dar dignidade para essas crianças. Dignidade é uma palavra forte e muito importante. Tem a ver com zelar pelo valor devido que cada um tem. Estas meninas tiveram sua dignidade roubada por quem deu menos valor a elas do que Deus dá. Mas se olharmos pelas lentes dos olhos de Deus, veremos do jeito certo. Aqui elas podem enxergar-se como, de fato, são, e não como outros a forçaram a ser.

Nos entristecemos ao saber que em muitos casos, são os próprios pais que vendem suas filhas a fim de conseguir recursos para sobreviver. O destino principal é a Índia. Diante disso, o desafio do projeto “Meninas dos Olhos de Deus” é ainda maior. Como restaurar a família destas meninas?

Perguntamos a Rose como eles conseguem mudar a vida destas crianças. Ela não responde exatamente, sabe que muito disso é milagre de Deus e resultado de um amor desmedido. Aqui elas se sentem em casa e assumem responsabilidades até estarem “livres para voar com as próprias asas”.

Após mais de uma hora de conversa, Rose nos convida para tomar café e comer bolinhos de chuva. Convite mais do que aceito!

Mas não apenas o lanche estava bom. Aproveitamos para conversar e brincar com as meninas. Descobrimos que algumas falam um pouco de português. Foi divertido ensinar mais da nossa língua a elas.

Lembra da menininha que não sorriu? Bem, agora é diferente. Ela solta gargalhadas enquanto brinca com alguns de nós. E quando o drone subiu, a festa ficou ainda maior. No final, oramos juntos para que Deus abençoe este trabalho excelente realizado em circunstâncias tão adversas.

A visita não acabou. Seguimos para a “Shristi Gyan Secondary School” – escola fundada e mantida pelo projeto. Ao lado, deu para ver a casa onde funcionava parte da escola, mas que teve que ser abandonada por conta do terremoto de 2015. A escola atende as crianças do projeto, mas também meninos e meninas pobres da cidade. É considerada uma das melhores. O Governo do Nepal lhe deu o status de escola pública, e isso obriga o projeto a assumir o currículo pedagógico do país, mas todos os custos de manutenção são de responsabilidade de quem a fundou. “Temos que ser criativos quanto a isso: pegar o currículo do governo e melhorá-lo”. Uma das maneiras de envolver os pais é gerar compromisso deles na educação dos filhos. Mais de 1.300 bolsas de estudo são distribuídas.

É evidente a diferença que este projeto faz na vida de crianças. Perguntamos à Rose então de quais histórias mais dramáticas ela lembra. “Sinceramente, não tenho como responder isso. Vivo as histórias delas todos os dias e me forço a esquecê-las porque são muito pesadas”, diz. Faz sentido. Rose age no presente olhando para o futuro. Com os olhos da fé.

O sol já estava indo embora quando visitamos a terceira casa do projeto. Também fomos recebidos com música e abraços. Vimos um filme sobre as ações no Nepal e fora do Nepal e nos surpreendemos com o exemplo de perseverança deles ao reconstruir a estrutura da fazendinha após o terremoto de 2015.

Já era noite quando chegamos na última casa. De novo, música e abraços. Foi incrível. As meninas estavam tão felizes em nos receber que não pararam de brincar conosco. Nos lembramos da visão escatológica de Zacarias: “E as ruas da cidade se encherão de meninos e meninas, que ali brincarão” (Zc 8.5).

Nos despedimos. Entramos no carro e seguimos. Rose e sua equipe também já tinham saído da casa numa van. Em algumas ruas a frente, percebemos que o carro deles estava atolado. Saímos e ajudamos e tirá-lo do atoleiro. O que fizemos foi muito pouco diante da grandeza do que Rose e sua equipe estão fazendo para tirar da lama crianças amadas por Deus.

#diariodebicicletanonepal #pedalandoporbibliasnepal

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